Lua nova em Câncer

Enquanto o Sol aguarda as últimas horas pra seu novo encontro com a Lua, vamos sendo movidos pelas águas. Ondas cancerianas, neblinas netunianas, transbordamentos que fazem encontros com correntes geladas e quentes, e inundam as águas escuras e provocativas de Lilith, deusa rainha misteriosa, que invocará toda a força do instinto a esse encontro.

Bastará um pouco de sensibilidade pra que sintamos a diluição e o aquecer simultâneos, espalhados num orvalho da noite e do ciclo.

Netuno inicia sua retrogradação, nos dando acesso a remergulhar em nossos registros mais antigos ou etéreos. O desejo de escapar escuta de longe um chamado da alma, que nos estende suas mãos e susurra pra que sigamos confiando, movendo, remando.

Por dentro de nós, Marte e Plutão refletem o Universo e se enfrentam, nos levando ao grande confronto dos deuses internos, seguir ou permanecer, guerrear com o mundo ou vestir-se de valentia pra enfrentar as próprias batalhas, guardadas e enraizadas num condicionamento já ultrapassado. O chamado de renascer em responsabilidade e não só renovar fantasias.

Júpiter, em seu “muito” de sempre, tudo amplifica. A dor e o amor, a coragem e o medo. O desejo de liberdade e de expansão confronta o vício da permanência e o receio de não sobreviver ao desconhecido num novo mundo incerto.

Há que se saber nadar, há que se lembrar que desde sempre soubemos nadar, isso brota da memória instintiva de nosso primeiro lar.

E assim, saber se receber, se acolher, se merecer. ComPaixão por si.

Aceitar o barulho ou silêncio da alma, que de nossas águas mais profundas, de nossas raízes mais longuínquas e de nossos galhos mais extensos saberão encontrar, seja nas elevações dos céus, seja nas profundezas da terra, o que verdadeiramente necessitamos independente do que desejemos.

O coração nos dirá pelo que vale a pena lutar, o que vale a pena proteger, quais sementes lançar e nutrir pro novo que precisa vir, necessário ao florescer.

Escute-o. Flua com ele. Vá devagar mas vá. É apenas o início do ciclo. Permita-se iniciar! Reinicie quantas vezes forem necessárias. A memória da água cuidará do que for essencial e limpará o que não for.